29 de dez. de 2011

"As palavras pedra ou faca ou maçã, palavras concretas, são bem mais fortes, poeticamente, do que tristeza, melancolia ou saudade. Mas é impossível não expressar a subjetividade. Então, a obrigação do poeta é expressar a subjetividade mas não diretamente. Ele não tem que dizer eu estou triste. Ele tem é que encontrar uma imagem que dê idéia de tristeza ou do estado de espírito - seja ele qual for - por meio de palavras concretas e não simplesmente se confessando na base do eu estou triste."

João Cabral de Melo Neto

28 de dez. de 2011

Me atraio, sobretudo, pelo que não me diz respeito. Pelo brilho multicor e pela profundidade das sombras do desconhecido. Sou guiada pela saborosa descoberta da virgindade de tudo aquilo que ainda não sou eu.
Com a pele nua, tateio as ásperas estranhezas do que posso tornar parte de mim: tudo.

17 de dez. de 2011

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Faço poesia com palavra morta e aceito pagamento em mãos.
A vida não está fácil, você sabe. Plantamos as palavras e, quando menos esperamos, o vento leva, as pragas corroem, as águas conduzem para rios que alagam represados, e a palavra dispersa se desfaz liquefeita - o que a torna inútil para os que amam, embora mais valorizada comercialmente.
Vendem palavras para os porcos que fuçam o desconhecido enquanto nós nos engasgamos e quebramos os dentes mastigando pérolas.
Moldo palavras entre os dedos e guardo seus restos dourados no que resta das cutículas. Degusto sobras de palavras limpando os dedos com a língua, passando as unhas entre os dentes.
Palavra é coisa que nasce mole e, endurecida, eterniza-se companheira da solidão.