7 de out. de 2009

Muletas

Não escrever deveria ser libertador, mas é um fardo tão pesado quanto fazê-lo. É como perder um membro; logo depois da amputação você sabe e vê que ele já não existe, mas ainda sente como se ele estivesse no mesmo lugar - por isso acontecem tantas quedas entre aqueles que por vezes esquecem que já não têm uma das pernas e procuram apoio no vazio.
Adaptamo-nos a tudo, inclusive às mais dolorosas ausências. Há inúmeras outras maneiras de caminhar.

30 de set. de 2009

Triste fim da realidade inventada

Fui privada do contato com a alma no instante em que o sangue do sonho deixou de fluir pelas mãos. Optei instintivamente pelas amarras às quais estou atada, por isso padeço do mal dos males: existo. Já não sou.
Perdi o gosto pelo abismo que, sendo todo vazio, preenchia com possibilidades. Sólida e pesada, disforme, não posso voar.
Recebo, com o conformismo, a mediocridade livre e desesperançada; uma nova liberdade descompromissada e leve.
Sendo menor, talvez flutue. Talvez as ondas me levem à aridez, distante das águas em que habituei-me a mergulhar.