14 de fev. de 2012

Conto os dias para trás e percebo que as dolorosas escolhas aparentemente equivocadas foram também as mais felizes.




Felicidade é ser.

11 de fev. de 2012

Sobre: viver

Constrói a exatidão do movimento com a delicadeza do gesto. Iluminasce a partir dos ossos até que, através dos músculos, seja tornado alma, âmago, ânima... ar.
Dançar é sentir o solo sob os pés e afastar-se dele a partir dos joelhos.
Existir é impulso. Ser é possuir no corpo toda música percebida pelas pontas dos dedos das mãos.
Tateia os dias como o desabrochar das orquídeas que lentamente devolvem ao mundo a infinita beleza das cores.
Enxerga e aceita a imprecisão do tempo:
a isso denomina [sobre]viver.

7 de fev. de 2012

(eco)ar

Não elevar a voz, ainda que para satisfazer o apetite insaciável do ego cada vez mais gordo. Permanecer monocórdio, a despeito de toda e qualquer alegria festejável. Não há felicidade que resista à vigilância invejosa, carente de desilusão e desespero.
O prazer, feito de pele e delicadeza, é um sussurrar vagamente luminoso, imerso nas delícias da solidão.

5 de fev. de 2012

Biblioteca: O Som e a Fúria


Demorei muitos meses para me convencer de que precisava ler Faulkner pela primeira vez, e alguns outros meses para decidir tirá-lo da estante. O primeiro incentivo veio do fato de o José Luis Peixoto, um dos meus autores favoritos, ser declaradamente fã da literatura do Faulkner (e o Peixoto é daqueles que, como eu, marca na pele as declarações de amor).
Pouco tempo depois, encontrei a edição maravilhosa da Cosac Naify, editora que tem meu amor eterno, - e nem me paga para escrever isso - pela metade do preço. Foi assim que o livro chegou até mim.
O Som e a Fúria foi um caso raro de paixão despertada mais por admiração que por identificação ou pertencimento.
Gosto do fato de o livro ter sido escrito durante um período de reclusão, após um fracasso do autor, e me interesso pela temática abordada. As infelicidades familiares, na literatura, me atraem; e as manifestações do racismo, hoje velado como se fosse moralmente inaceitável, são tão chocantes nos livros quanto na padaria ou na fila do banco.
As primeiras páginas não foram fáceis. A primeira parte do livro é constituída por diálogos que muitas vezes parecem ininteligíveis. A leitura das páginas narradas por Benjy, que sofre deficiência mental, foi de uma diculdade angustiante.
Superado o obstáculo, que posteriormente justifica-se necessário e desejado, agradeci, a cada virada de página, pela oportunidade de ter em mãos parte da obra um autor que - a despeito dos prêmios ou títulos que, muitas vezes, podem parecer assustadores - foi genial.
Ler O Som e a Fúria é, além de desfrute, uma aula. São muitos livros em um só. Muitos modos de escrever e de descrever. Um delicioso passeio por diferentes estilos e pontos de vista.
As estórias das personagens de O Som e a Fúria são tão tristes quanto a maior parte das relações humanas, se observadas com atenção. Sob o olhar de William Faulkner, a tristeza, neste livro, tornou-se bela.
Me apaixonei pelo autor, por isso quero (ler) mais.


O Som e a Fúria; William Faulkner - 336 páginas - Cosac Naify

4 de fev. de 2012

Acontece que ela pensa demais antes de fazer e, porque não faz, é como se não existisse.
A palavra certa e a expressão bendita. A postura, os gestos e a impostação da voz. O salto, o cabelo, o batom, o vestido e o resto.
O resto.
Esquece que a realidade desconhece a perfeição - e por isso é bela.
Acontece que ela existe; ainda que execute com alguma graça a inútil e dolorosa arte de desviver.