5 de fev. de 2012

Biblioteca: O Som e a Fúria


Demorei muitos meses para me convencer de que precisava ler Faulkner pela primeira vez, e alguns outros meses para decidir tirá-lo da estante. O primeiro incentivo veio do fato de o José Luis Peixoto, um dos meus autores favoritos, ser declaradamente fã da literatura do Faulkner (e o Peixoto é daqueles que, como eu, marca na pele as declarações de amor).
Pouco tempo depois, encontrei a edição maravilhosa da Cosac Naify, editora que tem meu amor eterno, - e nem me paga para escrever isso - pela metade do preço. Foi assim que o livro chegou até mim.
O Som e a Fúria foi um caso raro de paixão despertada mais por admiração que por identificação ou pertencimento.
Gosto do fato de o livro ter sido escrito durante um período de reclusão, após um fracasso do autor, e me interesso pela temática abordada. As infelicidades familiares, na literatura, me atraem; e as manifestações do racismo, hoje velado como se fosse moralmente inaceitável, são tão chocantes nos livros quanto na padaria ou na fila do banco.
As primeiras páginas não foram fáceis. A primeira parte do livro é constituída por diálogos que muitas vezes parecem ininteligíveis. A leitura das páginas narradas por Benjy, que sofre deficiência mental, foi de uma diculdade angustiante.
Superado o obstáculo, que posteriormente justifica-se necessário e desejado, agradeci, a cada virada de página, pela oportunidade de ter em mãos parte da obra um autor que - a despeito dos prêmios ou títulos que, muitas vezes, podem parecer assustadores - foi genial.
Ler O Som e a Fúria é, além de desfrute, uma aula. São muitos livros em um só. Muitos modos de escrever e de descrever. Um delicioso passeio por diferentes estilos e pontos de vista.
As estórias das personagens de O Som e a Fúria são tão tristes quanto a maior parte das relações humanas, se observadas com atenção. Sob o olhar de William Faulkner, a tristeza, neste livro, tornou-se bela.
Me apaixonei pelo autor, por isso quero (ler) mais.


O Som e a Fúria; William Faulkner - 336 páginas - Cosac Naify