31 de ago. de 2012

Sob o desenrolar do novelo dos sonhos, corpo.
Teia de ilusões atada aos pés da cama.

29 de ago. de 2012

27 de ago. de 2012

Os livros portugueses

O Biofagia não é um blogue sobre livros.
Não sei escrever resenhas, por isso não as escrevo. Não costumo ler resenhas sobre os livros com os quais pretendo me encontrar. Os bons livros contam-se sozinhos, não precisam de resumos, embora sejam merecedores de todas as declarações de amor.
Escrever sobre os livros que leio é um desejo pessoal; publicar algumas impressões e palavras sobre a minha relação com eles me ajuda a cumprir a meta, a registrar meus instantes. Não tenho grandes pretensões.
Como grande parte dos livros escritos por autores pelos quais me interesso ainda não foi publicada no Brasil, costumava encomendar a uma livraria brasileira os livros publicados por editoras portuguesas.
Costumava.
Fiquei surpresa quando recebi um e-mail da WOOK e ainda mais surpresa quando visitei a livraria.
A WOOK disponibiliza livros que a livraria brasileira em que costumava comprar dizia estarem esgotados e, mesmo com os custos do envio intercontinental, oferece preços muito mais atraentes do que os que costumava ver em livrarias internacionais e menores que os preços pagos à livraria brasileira que aceita encomendas.
Antes de colocar o banner (que é lindo!) no blogue, testei o serviço. Escolhi um livro de poemas do Saramago, um livro de contos do José Luís Peixoto e um, também de contos, do Ondjaki.
Os livros saíram de Portugal no dia 14/08, um dia depois da compra, e no dia 18/08 estavam aqui, na minha casa, muito bem acondicionados, em uma caixa ao alcance das minhas mãos.
Eu poderia ter me tornado uma afiliada antes de testar o serviço e sem contar a minha história com a WOOK, mas estou encantada.
As boas livrarias merecem todas as declarações de amor.

23 de ago. de 2012

Sublinhamento

Aliás, eu recomendaria a você algum desleixo, uma memória mais curta, certa preguiça mental. Sim, porque, veja, aquilo a que chamam falta de virtudes desempenha papel bastante grande na existência humana; é importante, quase necessário, eu diria. Não fossem essa ausência de virtudes e os erros, o mundo careceria de calor, encanto e riqueza. Metade do mundo, e talvez a metade, no fundo, mais bela, pereceria sem as negligências e as fraquezas.

Excerto do livro Jakob von Gunten, por Robert Walser

17 de ago. de 2012

Quinta-feira, Março 05, 2009

Os bons-dias
ou Um presente

Herdeiros do vento, despidos de todos os preconceitos, preceitos e de todas as inúteis vaidades, há muito renderam-se ao tempo e suas intempéries. Exploradores da realidade pétrea, idealizam com luminosidade radiante as inúmeras possibilidades do porvir que inevitavelmente os alcança segundos após a conclusão do pensamento tornado pretérito ao transformar-se em palavras.
Satisfazem-se ao desvelar cada um dos secretos anseios compartilhados. Alegram-se nas doces pequenezas em que convergem as existências paralelas sulcadas pelas distinções. Olhares e tato contemplam, contentes, a inteireza da realidade. Sorriem diante de mais um alvorecer e, ao entrelaçar os dedos das mãos, adormecem.
Sobre a íntegra brancura das açucenas, como sob a ensolarada e límpida margem fértil do rio, amanhece azul.

10 de ago. de 2012

Biblioteca: encontros, reencontros e descobertas

O filho de mil homens

Eu ainda não conhecia nenhum outro livro do Valter Hugo Mãe - que acompanho via Facebook e Twitter - quando O filho de mil homens chegou às minhas mãos. Prestes a ler mais um livro do autor, posso dizer que ele é um forte candidato a se tornar um dos meus favoritos, daqueles que merecem ter toda a obra devorada sem parcimônia.
O filho de mil homens é apaixonante. Fui cativada pela escrita que é quase música e, durante a imersão na beleza do universo do livro, senti que gostaria de ser um pouco de cada um dos personagens que habitam suas páginas.
Terminei a leitura desejando observar mais, sonhar mais e fazer mais do que aquilo a que estou habituada - e desejando, é claro, novas viagens pelas delícias nem sempre doces, mas inevitavelmente humanas, do universo criado pelo autor.

O filho de mil homens - Valter Hugo Mãe - 256 páginas - Cosac Naify



Antes das Primeiras Estórias

Minha primeira experiência com Guimarães Rosa, que é referência para muitos dos autores que admiro, não foi das melhores. Li Sagarana na esteira ou na bicicleta da academia e tudo pareceu deslocado - tanto quanto eu me sinto deslocada com a música insuportável daquele lugar.
Quando escolhi Antes das Primeiras Estórias como segunda tentativa, não sabia da apresentação escrita pelo Mia Couto. Ótima surpresa; senti como se recebesse as boas vindas por insistir na aproximação.
O Guimarães Rosa de Antes das Primeiras Estórias parece bem diferente daquele que li em Sagarana e que encontro em excertos, mas ensina tanto quanto outros livros de autores já consagrados. Gostei de ler um autor ainda jovem, talvez imaturo, mas talentoso. Gostei de perceber que ele, antes de tornar-se quase unanimidade, fez outras tentativas, que não "engessou" a escrita, e que se propôs ao maravilhoso desafio de, criando, (se) transformar.

Antes das Primeiras Estórias - João Guimarães Rosa - 96 páginas - Nova Fronteira



Bonsai

Muitos falaram e escreveram sobre Bonsai, que li assim que foi lançado. Logo, penso que qualquer coisa que escreva sobre ele me condenará ao fundo poço infinito da repetição.
Gosto do formato do livro, que poderia ser um livrinho de bolso, se fosse aparado, como sugerem o pontilhado na capa e as marcas de corte no interior.
É uma estória de vidas, muito bem podada, precisa, ainda que aconteça também na infinitude das entrelinhas. É uma estória para ser lida toda de uma vez e para, observada a partir de outros pontos, ser constantemente descoberta a partir da releitura.

Bonsai - Alejandro Zambra - 64 páginas - Cosac Naify



Short Movies

Short Movies é, como sugere o título, composto por breves cenas deliciosamente descritas por Gonçalo M. Tavares, que continua sendo um dos meus grandes amores. Gosto das estórias que, neste livro, se dizem através das palavras, mas que propõem exercícios imaginativos, questionamentos de como e por que os personagens e situações chegaram até ali.
A edição feita pela Editorial Caminho é belíssima, com capa dura e sobrecapa ilustrada com fotos de uma bailarina que remete aos movimentos e figurino da minha amada Isadora Duncan.
Escrever é, também, fotografar instantes. Arte que, em Short Movies, Gonçalo M. Tavares realiza com poesia e perfeição.

Short Movies - Gonçalo M. Tavares - 160 páginas - Editorial Caminho



Caro Michele

Caro Michele é mais um livro da bela e ótima coleção Mulheres Modernistas, que, para minha alegria, parece não ter fim. Quando Caro Michele chegou às minhas mãos eu não sabia exatamente quais eram a forma e a temática do livro, além de não conhecer muito sobre a autora, Natalia Ginzburg.
Àquela altura eu escrevia, com um amigo, o esboço de um livro no qual a história aconteceria a partir da troca de cartas entre duas pessoas. Fiquei obviamente surpresa quando descobri que em Caro Michele os fatos se desenrolam exatamente assim, a partir da troca de correspondências entre pessoas que possuem laços familiares e afetivos, e que têm suas vidas e relações permeadas pelos acontecimentos da época, que foi marcada pela tentativa de um golpe de Estado na Itália e pela vitória do fascismo.
Ainda que o livro retrate um período difícil e existências dolorosas, a escrita de Natalia Ginzburg é deliciosa. Por conta do deslumbramento com a autora que ainda não conhecia, desisti do livro que não escrevi.

Caro Michele - Natalia Ginzburg - 192 páginas - Cosac Naify