31 de ago. de 2013

Literária

não li nenhum dos livros que amo
mas amo todos os livros que tenho

30 de ago. de 2013

NOSSA SENHORA DO SILÊNCIO

Às vezes quando, abatido e humilde, a própria força de sonhar se me desfolha e se me seca, e o meu único sonho só pode ser o pensar nos meus sonhos, folhejo-os então, como a um livro que se folheia e se torna a folhear sem ter mais que palavras inevitáveis. É então que me interrogo sobre quem tu és, figura que atravessas todas as minhas visões demoradas de paisagens outras, e de interiores antigos e de cerimoniais faustosos de silêncio. Em todos os meus sonhos ou apareces, sonho, ou, realidade falsa, me acompanhas. Visito contigo regiões que são talvez sonhos teus, terras que são talvez corpos teus de ausência e desumanidade, o teu corpo essencial descontornado para planície calma e monte de perfil frio em jardim de palácio oculto. Talvez eu não tenha outro sonho senão tu, talvez seja nos teus olhos, encostando a minha face à tua, que eu lerei essas paisagens impossíveis, esses tédios falsos, esses sentimentos que habitam a sombra dos meus cansaços e as grutas dos meus desassossegos. Quem sabe se as paisagens dos meus sonhos não são o meu modo de não te sonhar? Eu não sei quem tu és, mas sei ao certo o que sou? Sei eu o que é sonhar para que saiba o que vale o chamar-te o meu sonho? Sei eu se não és uma parte, quem sabe se a parte essencial e real, de mim? E sei eu se não sou eu o sonho e tu a realidade, eu um sonho teu e não tu um Sonho que eu sonhe?
Que espécie de vida tens? Que modo de ver é o modo como te vejo? Teu perfil? Nunca é o mesmo, mas não muda nunca. E eu digo isto porque o sei, ainda que não saiba que o sei. Teu corpo? Nu é o mesmo que vestido, sentado está na mesma atitude do que quando deitado ou de pé. Que significa isto, que não significa nada?

s.d.
Livro do Desassossego por Bernardo Soares. Vol.I. Fernando Pessoa. (Recolha e transcrição dos textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e Organização de Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1982.  - 254.

"Fase decadentista", segundo António Quadros (org.) in Livro do Desassossego, por Bernardo Soares, Vol I. Fernando Pessoa. Mem Martins: Europa-América, 1986.

28 de ago. de 2013

quero e sei que devo, mas não posso. em respeito às ordens do corpo, multiplico nãos quando preciso dizer sim. tenho órgãos e ossos que, me pertencendo, me anulam enquanto dividida entre desejo e possibilidade. tenho estado impossível. se fosse fiel aos sinais do universo, estaria lá. ou teria estado tanto lá a ponto de ter me perdido. ou perdido a minha graça. ou de ter sido descoberta uma farsa, daquelas que decepcionam ao milésimo olhar, na primeira palavra dita durante os três primeiros segundos do quarto mês.

27 de ago. de 2013

Sonhário

Rio de Janeiro. Calor, muito calor. Nem nos sonhos me liberto dos lugares-comuns ou -  para usar a expressão que o namorado odeia - dos clichês. Eu fugia de uma festa em uma fazenda lindíssima, onde passei alguns dias com o autor-diretor-ator-famoso por quem era (sou?) apaixonada, caminhando morro abaixo, entre casas espremidas em ruas muito estreitas. Sentia o tempo abafado e pedrinhas de asfalto na sola dos pés. Não lembro de como foi a noite de fuga, mas lembro que amanhecia quando fiquei paralisada porque encontrei um imenso urso negro passeando pela rua de onde era possível ver a areia e o mar. Fui socorrida por duas senhoras que, enquanto riam de mim, disseram que o urso vivia ali. Tomamos suco de laranja gelado acompanhadas pelo urso, que deitou ao longo de uma sombra de árvore que se estendia no piso amarelecido. A praia estava deserta e ensolaradíssima. Um dia lindo. Eu usava meu vestido branco de algodão. Acordei com a sensação de ter pisado na areia. Ficou tudo bem. Tudo bem.

26 de ago. de 2013

Sublinhamento


- As palavras, meu amigo, são como folhas numa árvore, e, para compreender por que uma folha é assim e não de outra maneira, é preciso saber como cresce a árvore, é preciso estudar! Um livro, meu amigo, é como um jardim dadivoso, em que existe de tudo: o útil e o agradável...

...

Eles me mostravam uma outra vida: a vida dos grandes sentimentos e desejos que levavam os homens a proezas e crimes. Eu via que os homens ao meu redor eram incapazes de proezas e de crimes, que eles viviam fora daquilo que se escrevia nos livros, e era difícil compreender o que havia de interessante em sua vida. Eu não quero viver tal vida... Isso me é bem claro: não quero...


Maksim Górki, no livro Ganhando meu pão, o segundo volume da auto-biografia do autor

22 de ago. de 2013


Fiz uma pilha de pequenezas na parte mais alta dos meus entulhos. Hoje um bilhete antigo suicidou. Enquanto Nietzsche só acredita em um deus que dança, eu creio em inutilidades que saibam voar.

21 de ago. de 2013

Iluminuras

Ou De saberes

Em água fria e vinagre refocilavam as cenouras, os brócolis e o pimentão, vez por outra olhando de soslaio a enigmática vagem desconfiada. Aguardavam cada um a sua vez de, durante a ducha que leva os resíduos, serem tocados suavemente por mãos carinhosas e delicadas. Eram inúmeros e multicolores, todos eles dispostos sobre a bancada que a terna luz solar do prenúncio de primavera iluminava.
Sorriam as batatas já sem casca, experimentando a nudez desconhecida, deslizando graciosamente entre os corpos umas das outras. Tomates brilhavam pequenas bolas escarlate; e picados, miudinhos, repousavam um só, amorfo, na grande tigela de vidro azul-celeste.
O cheiro-verde, sentindo a água que tocava seus joelhos, farfalhava salsas e cebolinhas aos pares, bailando como encantado a valsa conduzida pela leve brisa úmida que, depois de acariciar as violetas brancas e roxas no parapeito, perpassava a grande janela sob o vitral.
Às quase onze de inverno, o azeite era calor sonoro enquanto a cebola recém-transparente preparava-se para dourar.
A cutela ainda virgem descansa solitária, em paz eterna, na última gaveta, sob a sombra poeirenta que alcança o chão. Condenada ao esquecimento, não inspira piedade.
Aqui não matamos porcos.


23 de setembro de 2008, no meu falecido blogue Rango na Madrugada.

20 de ago. de 2013

Casa entre vértebras


Gosto dos autores que contam boas histórias, mas gosto ainda mais daqueles que escrevem como quem oferece frases e sentenças para serem saboreadas. Casa entre vértebras foi escrito por um poeta que conhece a medula das palavras e por isso escreveu prosa com jeito de poesia filosófica.
Não fui capaz de ler o livro como um romance, embora a palavra romance seja anunciada na capa, logo abaixo do título. Também não vi, durante a leitura, nenhuma grande semelhança com os textos da Clarice Lispector, que é mencionada no texto da orelha, escrito por Ivan Marques, porque sinto os livros da Clarice como mergulhos profundos em terras e águas muitas vezes sufocantes, e os capítulos curtos ou curtíssimos, quase sempre bastante densos, escritos por Wesley Peres, me permitiram respirar.
Durante a leitura tive a sensação de ter encontrado alguma semelhança com as divagações da Hillé, a Obscena senhora D., da Hilda Hilst, porque o narrador do livro escrito por Wesley Peres também parece imergir no estado de derrelição.
Se fosse preciso mencionar alguma outra referência, diria que em alguns momentos o autor se aproxima do português Gonçalo M. Tavares - que é um dos melhores escritores contemporâneos e está entre meus favoritos-, principalmente porque constrói frases precisas e certeiras, daquelas que inspiram e que ficam tatuadas na memória.
Embora tenha também alguns poucos passeios por lugares comuns, Casa entre véterbras é um ótimo livro. Wesley Peres, que foi elogiado por [meu amado] Manoel de Barros, é um autor de quem quero ler mais, para conhecer melhor.

Casa entre vértebras - Wesley Peres - 224 páginas - Editora Record

18 de ago. de 2013

Sublinhamento

... nunca dou sossego a mim mesmo e tenho a sensação de que estou devorando a minha própria vida, tenho a sensação de que, para fabricar o mel que entrego, num vazio, a pessoas que nem mesmo sei quem são, eu retiro o pólen das minhas melhores flores, arranco da terra essas mesmas flores e pisoteio suas raízes.

Anton Tchekhov, em A Gaivota

17 de ago. de 2013

dançamos como se, ao som da cítara, nossos corpos se manifestassem em uníssono. como se os movimentos ocultassem o que as palavras não ditas e expressões malditas revelam sobre as relações esquartejadas. cerramos nossos olhos para obedecer ao ritmo, como se a melodia sobreposta à ausência do essencial e a música envolvente, aguçando os sentidos, apurassem o olhar. encenamos a alegria como se, diferentes dos outros, já não fôssemos transparentes. teatralizamos a felicidade para ocultar a dor de estarmos solitários entre nós.

16 de ago. de 2013

Livrinho de bolso da Bel #1


A Bel é uma das artistas mais talentosas, pessoas mais amáveis e amigas mais queridas que a vida me deu. Fiquei feliz quando soube que ela, corajosa, publicaria e venderia em uma feira de artes um livrinho com os poemas que escreve. Mas, como conheço a Bel que poetiza a vida melhor que a  Bel poeta de palavras, senti um pouco de medo quando recebi o meu exemplar. Entro em pânico sempre que alguém que amo e admiro sugere que eu leia seus escritos. Por mais que confie nos meus amigos talentosos, não sei mentir. E sei que nem todo mundo acerta sempre, mas a Bel acertou.
Hoje é aniversário da minha amiga e, porque queria senti-la mais próxima, reli o livrinho pela terceira vez. A Bel é dulcíssima e delicada, mas também irônica e ácida. A Bel é sensível, inteligente e bonita, muito bonita. Quando a Bel sorri o mundo inteiro sorri com ela e quando ela nos olha nos olhos - ela sempre olha nos olhos - é como se acendesse outra pessoa dentro de nós. A Bel tem abraços deliciosos porque abraça de verdade. A Bel é de verdade. E, sobre os poemas que a Bel escreve, só há uma definição possível: eles são a Bel.
Como disse para a Bel depois da primeira leitura, que fiz durante um amanhecer de domingo, ao som de bem-te-vis, alguns dos poemas me fizeram lembrar muito do Chacal, que é um dos poetas de quem mais gosto.
O livrinho de bolso da Bel traz leveza para a densidade dos dias azuis e é também uma ótima companhia para as noites de inverno. Os poemas que ele traz são para todos os momentos, sempre. Exatamente como a Bel.


Livrinho de bolso da Bel #1 - Bel Mendes - 48 mini páginas - Namoita

15 de ago. de 2013

gosto de andar em círculos
andar em círculos é melhor
                                       que
                                              estar
                                                      sempre
                                                                  c
                                                                    a
                                                                      i
                                                                       n
                                                                         d
                          
                                                                            o


14 de ago. de 2013

Um livro

No começo da semana li um livro com um título muito atraente. Um livro com um ótimo título e um lindo índice, que me levaram a pensar que seria um daqueles livros pelos quais é impossível não me apaixonar. A autora, doutora, mestre, pertencente às academias todas, me seduziu também pelo currículo, resumido na orelha da quarta capa. Currículos podem ser sedutores, ainda que eu quase sempre os ignore. Não gosto de escrever sobre livros dos quais não gostei porque sei que muitas pessoas trabalharam para que eles fossem publicados. Me recuso a mencionar autores e títulos dos livros ruins porque nenhuma crítica é aproveitável para o livro que publicado está. A autora do livro teria produzido um bom texto se fosse uma adolescente redigindo um trabalho escolar a partir da realização de pesquisas no Google; teria feito um ótimo livro se poupasse o leitor das tentativas de poesia e dos finais repetitivos e autoajudísticos que, nos últimos parágrafos dos capítulos, mencionavam, implícita ou explicitamente, o título da obra. Talvez tenha sido uma tentativa de tornar o texto acessível e fugir do academicismo. Talvez tenha sido um teste, uma tentativa de explorar novas formas. Não sei quase nada sobre a autora, mas imagino que ela pode ter sido acometida por uma súbita falta de talento para a literatura, também. Entre talvezes e imaginações, é certo que a autora ou a editora que publicou o livro precisam desesperadamente encontrar uma nova revisora ou um novo revisor. É triste, tristíssimo, ler um livro com uma revisão absurda e dolorosamente mal feita; uma revisão espantosamente ruim.

13 de ago. de 2013

12 de ago. de 2013

a vida se derrama
em possibilidades

quando o som dos bem-te-vis anuncia mais um dia de sol

11 de ago. de 2013

Para o pai da assassina do meu avô


Há monstros que não têm nome.



As primeiras palavras que o ouvi falar, quando ainda não sabia quem era, foram os argumentos que usou para justificar sua ausência durante todos os muitos dias em que seu sobrinho esteve hospitalizado. O senhor não sabia quem eu era, mas eu e seu sobrinho, de quem sou amiga e a quem fiz companhia desde o primeiro dia de internação, sabíamos que sua filha havia sido a assassina do meu avô. O senhor não sabia quem eu era e insistiu em saber sobre a minha família, porque é assim que acontece entre seus iguais. O senhor não sabia quem eu era e continuou sem saber, porque eu não disse nenhuma palavra além dos nomes e profissões dos Vieiras e Ribeiros que me antecedem.
O senhor não sabe, mas, na tentativa explicar o inexplicável, esclareceu as dúvidas que me acompanharam durante anos. Era-me incompreensível o fato de a minha avó não ter sido procurada por vocês senão para assinar o documento em que abriria mão da indenização determinada pela justiça; permanecer indiferente e não se arrepender do fato de ter sido responsável pela morte uma pessoa sempre me pareceu demasiadamente cruel. Também não entendia como, condenada a prisão domiciliar, que impunha reclusão a partir das 20h, sua filha frequentou todos os anos do curso universitário no período noturno. Naquela tarde, ouvindo-o argumentar colericamente ao lado de um leito de hospital, como se não estivéssemos em um ambiente que exige alguma delicadeza e existissem argumentos que amenizassem o fato de sua filha ser uma assassina, compreendi quão deprimente alguém pode ser.
Não sei durante quantos minutos ouvi os absurdos que dizia, mas não lembro de, algum dia, ter sentido tanto nojo quanto naquele momento. Na sua presença, eu senti, pela primeira vez, uma vontade quase incontrolável de acabar com a vida de uma pessoa. O senhor deveria agradecer por eu ser neta daquele que foi morto pela sua filha, daquele que me ensinou muito sobre justiça e que foi um dos meus exemplos de caráter. Tenho me tornado quem sou graças a ele, por isso foi também graças a ele que o senhor, que já é idoso, não foi sequer agredido verbalmente, porque eu emudeci.
Hoje sei que o senhor tinha razão quando disse que sua filha foi vítima. Ela é uma vítima, sim. Mas não foi vítima dos amigos maus que a induziram a consumir álcool em excesso durante a tarde de domingo ou do amigo de má índole que emprestou o carro que ela dirigia quando matou o meu avô. Sua filha é vítima de um péssimo exemplo paterno, vítima de má educação. Sua filha é a vítima assassina de uma família que, graças a ela, foi devastada. Sua filha é vítima e, ao contrário do que o senhor sugeriu quando tentou encontrar similaridades entre nós duas, porque temos quase a mesma idade, tem raízes que me são completamente estranhas e vive sob princípios e valores que a tornam muitíssimo diferente de mim.

10 de ago. de 2013

Sublinhamento

Fazer arte, fazer esteticismo, é ter em vista a aprovação, o efeito furtivo, exterior, passageiro, mas também procurar exteriorizar sentimentos graves, procurar atitudes essenciais do espírito, querer dar aos espectadores a impressão de que eles arriscam alguma coisa, vindo ver nossas peças, e tornando-os sensíveis ao espírito de uma nova idéia do Perigo, creio que isto não é fazer arte.

Antonin Artaud, no livro Linguagem e vida

8 de ago. de 2013


o meu amor
foge de casa
e anda na rua
sobre as poças
de luz azul

o meu amor
faz seresta
sob a janela
fechada
para a triste
lua cheia

o meu amor
respira e cala

o meu amor
morre
em mim


7 de ago. de 2013

"Se podes olhar, vê."



Resmas de colorir
 o prato de quem leva;
 resmas para tornar farta
 a mesa de quem ficou.



Feira livre, em Rio de Contas - Chapada Diamantina - Bahia
Fotografia de Cléria Vanusa

5 de ago. de 2013

Das notícias

Ser negro ainda é notícia. Ser mulher ainda é notícia. Ser mulher bonita é notícia. Ser mulher feia é notícia. Ser muito jovem é notícia. Ser velho demais (quem é velho demais?) é notícia também. Talvez SER seja a maior notícia no mundo que considera que o ideal é ESTARMOS todos iguais.

Resposta a um desabafo escrito pela Cláudia, no blogue Mau Feitio, que é sempre ótimo.

4 de ago. de 2013

Elena e todos nós

Sobre o filme Elena


O filme é lindo. Doloroso e lindo. Poético e lindo. Melancólico e lindo. É uma linda declaração de dor - e de amor.
Lendo os comentários sobre o filme, depois de tê-lo assistido, vi que um rapaz escreveu que todo mundo é um pouco Elena. Discordo da afirmação e sei que glamourizar e banalizar as psicopatologias, além de serem práticas perigosas, não foi a intenção de Petra Costa.
Compreendo que, ao conhecer Elena e o núcleo familiar retratado no filme/documentário, muitos se identifiquem com a dor da perda e com as angústias e situações desesperadoras. Somos todos feitos de ausências, mas nem todos adoecem por isso. Nem todos conhecem a sensação de ser minúsculo e, simultaneamente, alcançar as grandezas de um corpo que carrega sofrimentos sempre maiores. Todo mundo é muita gente. E felizmente nem todo mundo conhece a dor insuportável de estar em si. Nem todo mundo se perde em caminhos sem volta. Nem todo mundo desaparece do mundo de uma maneira absurdamente dolorosa. Nem todo mundo é Elena. Ainda bem.
Eu gostaria de dizer que Elena me atingiu como uma faca no peito, mas isso não aconteceu. Sinto como se, ao ver o filme, tivessem enfiado uma colherinha entre as minhas costelas, uma colher de cabo longo, feita de metal gelado, que dilacerou a pele antes de atravessar a carne, e que desde ontem mexe lentamente todo o lodo que tenho em mim.

3 de ago. de 2013

É uma fuga para dentro se você quiser, é o encontro de grande amor, sabe, quando a gente pensa que não existe mas de repente você passa a pegar e sentir em tudo, é uma tremenda verdade de encontro que estou vivendo agora. ... A gente começa a viver de tal maneira que as palavras se tornam precárias para a vida.

Excerto de uma carta de Maria Bonomi para Clarice Lispector, no livro Correspondências - Clarice Lispector, organizado por Teresa Montero

2 de ago. de 2013

Muletas

Não escrever deveria ser libertador, mas é um fardo tão pesado quanto fazê-lo. É como perder um membro; logo depois da amputação você sabe e vê que ele já não existe, mas ainda sente como se ele estivesse no mesmo lugar - por isso acontecem tantas quedas entre aqueles que por vezes esquecem que já não têm uma das pernas e procuram apoio no vazio.
Adaptamo-nos a tudo, inclusive às mais dolorosas ausências. Há inúmeras outras maneiras de caminhar.