20 de ago. de 2013

Casa entre vértebras


Gosto dos autores que contam boas histórias, mas gosto ainda mais daqueles que escrevem como quem oferece frases e sentenças para serem saboreadas. Casa entre vértebras foi escrito por um poeta que conhece a medula das palavras e por isso escreveu prosa com jeito de poesia filosófica.
Não fui capaz de ler o livro como um romance, embora a palavra romance seja anunciada na capa, logo abaixo do título. Também não vi, durante a leitura, nenhuma grande semelhança com os textos da Clarice Lispector, que é mencionada no texto da orelha, escrito por Ivan Marques, porque sinto os livros da Clarice como mergulhos profundos em terras e águas muitas vezes sufocantes, e os capítulos curtos ou curtíssimos, quase sempre bastante densos, escritos por Wesley Peres, me permitiram respirar.
Durante a leitura tive a sensação de ter encontrado alguma semelhança com as divagações da Hillé, a Obscena senhora D., da Hilda Hilst, porque o narrador do livro escrito por Wesley Peres também parece imergir no estado de derrelição.
Se fosse preciso mencionar alguma outra referência, diria que em alguns momentos o autor se aproxima do português Gonçalo M. Tavares - que é um dos melhores escritores contemporâneos e está entre meus favoritos-, principalmente porque constrói frases precisas e certeiras, daquelas que inspiram e que ficam tatuadas na memória.
Embora tenha também alguns poucos passeios por lugares comuns, Casa entre véterbras é um ótimo livro. Wesley Peres, que foi elogiado por [meu amado] Manoel de Barros, é um autor de quem quero ler mais, para conhecer melhor.

Casa entre vértebras - Wesley Peres - 224 páginas - Editora Record