
Eu ainda não conhecia nenhum outro livro do Valter Hugo Mãe - que acompanho via Facebook e Twitter - quando O filho de mil homens chegou às minhas mãos. Prestes a ler mais um livro do autor, posso dizer que ele é um forte candidato a se tornar um dos meus favoritos, daqueles que merecem ter toda a obra devorada sem parcimônia.
O filho de mil homens é apaixonante. Fui cativada pela escrita que é quase música e, durante a imersão na beleza do universo do livro, senti que gostaria de ser um pouco de cada um dos personagens que habitam suas páginas.
Terminei a leitura desejando observar mais, sonhar mais e fazer mais do que aquilo a que estou habituada - e desejando, é claro, novas viagens pelas delícias nem sempre doces, mas inevitavelmente humanas, do universo criado pelo autor.
O filho de mil homens - Valter Hugo Mãe - 256 páginas - Cosac Naify
Antes das Primeiras Estórias

Quando escolhi Antes das Primeiras Estórias como segunda tentativa, não sabia da apresentação escrita pelo Mia Couto. Ótima surpresa; senti como se recebesse as boas vindas por insistir na aproximação.
O Guimarães Rosa de Antes das Primeiras Estórias parece bem diferente daquele que li em Sagarana e que encontro em excertos, mas ensina tanto quanto outros livros de autores já consagrados. Gostei de ler um autor ainda jovem, talvez imaturo, mas talentoso. Gostei de perceber que ele, antes de tornar-se quase unanimidade, fez outras tentativas, que não "engessou" a escrita, e que se propôs ao maravilhoso desafio de, criando, (se) transformar.
Antes das Primeiras Estórias - João Guimarães Rosa - 96 páginas - Nova Fronteira
Bonsai

Gosto do formato do livro, que poderia ser um livrinho de bolso, se fosse aparado, como sugerem o pontilhado na capa e as marcas de corte no interior.
É uma estória de vidas, muito bem podada, precisa, ainda que aconteça também na infinitude das entrelinhas. É uma estória para ser lida toda de uma vez e para, observada a partir de outros pontos, ser constantemente descoberta a partir da releitura.
Bonsai - Alejandro Zambra - 64 páginas - Cosac Naify
Short Movies
A edição feita pela Editorial Caminho é belíssima, com capa dura e sobrecapa ilustrada com fotos de uma bailarina que remete aos movimentos e figurino da minha amada Isadora Duncan.
Escrever é, também, fotografar instantes. Arte que, em Short Movies, Gonçalo M. Tavares realiza com poesia e perfeição.
Short Movies - Gonçalo M. Tavares - 160 páginas - Editorial Caminho
Caro Michele

Àquela altura eu escrevia, com um amigo, o esboço de um livro no qual a história aconteceria a partir da troca de cartas entre duas pessoas. Fiquei obviamente surpresa quando descobri que em Caro Michele os fatos se desenrolam exatamente assim, a partir da troca de correspondências entre pessoas que possuem laços familiares e afetivos, e que têm suas vidas e relações permeadas pelos acontecimentos da época, que foi marcada pela tentativa de um golpe de Estado na Itália e pela vitória do fascismo.
Ainda que o livro retrate um período difícil e existências dolorosas, a escrita de Natalia Ginzburg é deliciosa. Por conta do deslumbramento com a autora que ainda não conhecia, desisti do livro que não escrevi.
Caro Michele - Natalia Ginzburg - 192 páginas - Cosac Naify