O escritor português Afonso Cruz escreveu, no divertido livro Os livros que devoraram meu pai, que "... um homem é feito de histórias, não é de DNA e músculos e ossos. De histórias.". Aqui no Brasil, há muito tempo, o muito lido e controverso Monteiro Lobato afirmou, depois de uma temporada nos Estados Unidos, que "Um país se faz com homens e livros".
Frequentadora assídua de bibliotecas públicas desde a infância, é com imensa alegria que percebo o renascimento da Biblioteca Municipal de Itapetininga, que vem à luz a partir de um novo coração, repleto de energia pulsante. Os olhos das crianças e jovens, atentos durante as contações de histórias, e o crescente movimento de empréstimo de livros e revistas atestam: há uma nova vida entre as paredes onde moram os livros que abraçam a imensa onda colorida que, transformada em balcão, atravessa o ambiente claro e quase sempre silencioso.
Na semana em que um jornal da capital paulista anunciava, em uma reportagem, o abandono de algumas bibliotecas paulistanas, nas quais quase não há movimento ou visitação do público, a Biblioteca Municipal de Itapetininga reuniu cerca de 220 pessoas durante uma tarde de contação de histórias. É a realidade da cultura da cidade que já foi conhecida como "Terra das Escolas" transformada para muito melhor.
As mães e pais que levam seus filhos à Biblioteca certamente não esquecerão dos momentos de afeto e intimidade partilhados entre histórias e livros. O resultado das vivências que acontecem através das histórias contadas ou lidas em um livro se reflete na educação e, principalmente, nas relações interpessoais, tão pouco valorizadas nos dias que correm. Imergir nos livros, partilhar histórias e compartilhar momentos de afeto é exercitar o gesto de ver o outro - um exercício que o ser humano corre o risco de esquecer, se não praticar. Os jovens e adultos que se dispõem a desbravar o lugar tido como inacessível, ou para frequência exclusiva de intelectuais e eruditos, descobrem que a Biblioteca Municipal é de todos nós.
O espaço físico é excelente, mas limita o alcance das muitas histórias que os livros contam. Porque as histórias são infinitas e os livros existem além das paredes e prateleiras, a Biblioteca Municipal passeia pela cidade em projetos de incentivo à leitura como “Biblioteca, um espaço de leitura”; “Bordando a nossa história”; “Hora do conto”;” Tardes de história”; “Narração Itinerante, um convite à pratica de leitura” e “Cine livro”, nos quais acontecem a contação de histórias e conversas sobre livros e literatura nas escolas e também a recepção de grupos escolares no pequeno espaço em um anexo aconchegante da Biblioteca Municipal.
Não é possível prever a dimensão das transformações que acontecerão entre os cidadãos itapetininganos a partir da nova vida gerada com o aumento de visitas à biblioteca e a facilidade de acesso aos livros, mas podemos afirmar que estamos diante do princípio de grandes mudanças que beneficiarão a todos.
Se um país se faz com homens e livros e somos feitos das nossas histórias, a Biblioteca Municipal de Itapetininga tem nos dado uma das mais valiosas possibilidades para criarmos histórias mais bonitas e construirmos novas realidades a partir do que os livros, e a nossa relação com a Biblioteca, dizem sobre a história da cidade que é feita por nós.
A Biblioteca Municipal de Itapetininga, ou Biblioteca Dr. Júlio Prestes de Albuquerque , fica à Rua Campos Sales, número 175, e tem as portas abertas de segunda a sexta das 8 às 22 horas, e aos sábados das 9 às 12 horas.
Ela tem a fachada feita de colunas de cores que, postas aos pares, foram dispostas como livros na estante. Você já foi até lá?
Publicado na edição Nº6 do Jornal Bem Estar - Itapetininga