28 de dez. de 2013

Narração Itinerante, um convite à leitura


A Biblioteca Municipal de Itapetininga oferece aos alunos da Rede Pública de Ensino o projeto "Narração Itinerante, um convite à leitura", que as escolas têm recebido como um abraço, e que pretende, a partir da contação de histórias e da mediação de leitura, fomentar o interesse pela literatura e pelos livros, aumentando o número de visitantes leitores e a procura pelos volumes que habitam a Biblioteca Municipal.
Os contadores de histórias são abridores de portas e janelas, desvendadores de mundos e apontadores de possibilidades infinitas. Aquele que conta histórias nos apresenta nossos próprios abismos e nos conduz em novas viagens a todos os céus. Somos protegidos pelos contos que ouvimos. Há um novo sol a cada contação das histórias (ou estórias, daquelas que, embora continuem vivas, são vistas com desconfiança pela gramática contemporânea), depois das quais ganhamos um mundo onde nada permanece inalterado. As palavras transformam árvores em poesia e a aridez do asfalto na paisagem de parte do trajeto daqueles que já não caminham sós. As pessoas reunidas em torno de uma história são capazes de observar a si mesmas nas palavras, sons e gestos do outro, de todos os outros. Como aqueles que se encontram para ouvir a sabedoria dos griots ou de outros contadores de suas tribos, os que ouvem as vozes dos livros sabem que, como afirmam profissionais da saúde da alma, as histórias que nos contam podem ser consideradas um bálsamo medicinal. 
É consenso que precisamos dessacralizar o objeto livro para torná-lo ainda mais atraente e para valorizar o hábito da leitura. Através da narração itinerante, que leva as histórias aos alunos, a Biblioteca Municipal oferece histórias como pequenos, mas grandiosos, gestos de afeto; para que o universo criado pelas palavras seja recebido com uma generosa porção de curiosidade, e para que as histórias, e também os livros, se multipliquem entre os alunos da Rede Pública de Ensino e façam parte do cotidiano de todos nós.



Publicado na edição Nº7 do Jornal Bem Estar - Itapetininga

1 de dez. de 2013

Vitória Valentina


"Crime e tragédia na favela. Um casal rouba e mata outro casal de vizinhos, mas na fuga também morre em um acidente de trânsito. Nando e Carla Vitória Valentina, filhos dos dois casais, crescem juntos e órfãos. A amizade e a cumplicidade construídas e impostas pelas circunstâncias vividas por eles na favela são seus laços mais fortes, que vão seguir por toda a vida. Esse é o enredo inicial desta novela gráfica, que trata de excluídos sociais e econômicos.
Nando trabalha como motoboy e vende, para um portal de notícias da internet, fotos e informações de coisas que ele vai vendo por seu caminho enquanto faz entregas. Carla se forma professora, mas faz bicos como babá. Até que, um dia, ele vê o que não devia ver. Uma entrega de dinheiro, passando da mão de um empresário supostamente respeitável para a de um traficante da favela. Aí vem a aventura. Um plano armado pelo dono do portal de notícias para dar um flagrante no empresário e no traficante. Nando ganharia um dinheiro e dividiria com Carla, mas o plano dá errado e os protagonistas seguem em novas peripécias para se safar."
  
A quarta capa de Vitória Valentina diz também que o texto é contra o machismo, contra o poder econômico e contra o consumismo, e que a autora, Elvira Vigna, gosta dos desenhos "sujos", em preto e branco, que criou para ilustrar a história.

Não há excessos ou poesia desnecessária no texto deliciosamente seco e direto que desconcerta o leitor desde a primeira página. Os personagens poderiam ser qualquer um dos nossos vizinhos e as histórias vividas por eles, como a vida de todos os seres que habitam o hospício Terra, às vezes beiram o absurdamente irreal.

Carla Vitória Valentina é encantadora porque é diferente das mulheres habitualmente retratadas pela literatura. É admirável porque vive, decide, seduz e - pasmem! - tem sua história contada por uma narradora que atribui a ela o desejo de praticar sexo com um homem, quando descreve exemplos de paixões inventadas - aquelas que acometem muitas de nós. 

Mesmo não sendo leitora habitual de HQs, gostei das ilustrações repletas de informações e movimento que dão vida às páginas. Terminei a leitura apaixonada por mais uma história criada por uma das grandes autoras brasileiras, que está entre as que mais gosto de ler.

Vitória Valentina é um convite para refletirmos sobre a naturalidade com que recebemos o que deveríamos repugnar e sobre os hábitos nocivos aos quais impensadamente nos submetemos. Nem tudo é espetáculo. A violência e as desigualdades não podem ser espetaculáveis. Sobrevivente do entorno, a personagem que intitula a HQ é o retrato de uma das mulheres que muitas outras mulheres - entre as quais me incluo - gostariam de ser.



Vitória Valentina - Elvira Vigna - 128 páginas - Editora Lamparina