5 de nov. de 2016

29 de out. de 2016


a criança que fui
já não respira
apodrece soterrada
pelo vazio
onde jazem
mães


vou morrer tanto
em todas as células
cédulas e
documentos expedidos
que deixarei a escritura
cravada na pedra
que me foi endereçada
satisfeita
vou sorrir diante da lápide estreita
de palavras parvas
meu corpo e meus gestos
adormecem em você

21 de ago. de 2016

eu-culinarista


fui ao programa da querida Nêta Bueno, apresentadora itapetiningana, para bater papo e dar a receita do meu hamburguinho vegetal

27 de jul. de 2016

foi só depois de escrever que me dei conta da transformação surpreendente. estou bem. não respondi com o meu "estou" habitual, que quase todos os interlocutores interpretavam como sim, mas que diziam a neutralidade com tendência negativa do estado. percebi admirada que se já não estou é porque tenho sido. não que a vida, sempre algoz, tenha se tornado gentil, ou que eu tenha passado a gostar das pessoas a ponto de desejar multidões ou grupos incertos - muito pelo contrário, aliás. estou bem porque tenho estado pouco e bem acompanhada. estou bem porque a ventania me fez forte e não há pedra que minhas ausências feitas de perdas-buracos não suportem ou tempestade que eu não acolha com mansidão. estou bem. e só.



Estive no lançamento do livro "A Mão Esquerda de Vênus", da Fernanda Young, e escrevi sobre o livro para o site do Leia Mulheres.

"A Mão Esquerda de Vênus e as deliciosas urgências de Fernanda Young" pode ser lido AQUI.

16 de jun. de 2016

(eco)ar
Não elevar a voz, ainda que para satisfazer o apetite insaciável do ego cada vez mais gordo. Permanecer monocórdio, a despeito de toda e qualquer alegria festejável. Não há felicidade que resista à vigilância invejosa, carente de desilusão e desespero.
O prazer, feito de pele e delicadeza, é um sussurrar vagamente luminoso, imerso nas delícias da solidão.

12 de jun. de 2016

12/06

desperto
na carne
o já extinto
limbo

limão e lota

amor: o próprio
trinta e seis vezes
desconhecido meu


4 de jun. de 2016

4 de abr. de 2016

a palavra:chave

abriremos simultaneamente as inúmeras portas cerradas pela passagem do tempo e semearemos a delicadeza multicor de todas as flores no entre da sóbria rudeza das frestas e trincas que povoam as ruínas que fizeram de nós. atravessaremos as dores passadas e seremos recebidas pela escuridão brilhante que oferta o futuro infinito em mãos limpas e espalmadas aos sons do sol. as inspirações trarão consigo o que é belo, mas também o impuro - imprudente e cego - que a resistência dos corpos será capaz de transformar. encontraremos espaço em, entre, sob e sobre as janelas, e experimentaremos as diferentes luzes das nossas des-limitações. residiremos, sobretudo, no gesto: na força da poesia que germina em solo árido, na firmeza delicada do tato e no olhar gentil que aprecia a dança e as ondas do tempo a passar. em redor das nossas próprias fogueiras - as mesmas que, no passado, nos queimaram - seremos sempre mais, muitas, e mais fortes; aprendemos a sobreviver aos desamores abraçadas à beleza da criatividade. imprimiremos nossas marcas, únicas, às linhas que pretendem delimitar a existência. seremos dicionário e norma culta. populares e eruditas. sacras e heréticas. em nossas e noutras paragens, palavras. pequenos universos agrupados, dizendo, de dentro, os nadas do que nos é exterior.