Escrito por mim e publicado no meu antigo blog, Rango na Madrugada, em 29 de novembro de 2005, logo depois do primeiro contato com um dos livros daquele com quem descobri um novo amar.
VÍRGULA
Ele fala vírgula Ela responde vírgula Surge então um pensamento dele vírgula O narrador interrompe vírgula ambos dão início à ação vírgula Ele fala novamente vírgula Ela pensa em falar, mas não fala vírgula O narrador conclui a frase ponto final
Assim, em meio às vírgulas que separam diálogos, idéias, pensamentos e atos, me vejo imersa pela primeira vez no universo de Saramago. A Língua Portuguesa de Portugal é encantadora, a narrativa é genial, mas a ousadia das vírgulas me encantou. Elas imprimem ritmo ao texto, aguçam minha curiosidade, tornam a leitura instigante e a viagem ainda mais prazerosa.
A vírgula, encantador elemento sintático que poucos sabem usar e muitos acreditam ser uma simples indicação de pausa, pode mudar o sentido de uma frase, de uma oração, de toda uma narrativa. Por muitos é usada com parcimônia, mas baila com inteligência e sabedoria pelo livro Ensaio Sobre a Cegueira, de Saramago.
A vírgula enfatiza, prepara, ameniza, separa. E talvez agora exprima a distância que existe entre mim e você, que está a ler este breve devaneio; apenas uma vírgula.
Entre tantos outros marcos, parte significativa da minha vida pode ser dividida em antes e depois dele.
Obrigada, José Saramago.