21 de jan. de 2012

Urgência

Avessa às eternidades, agorifico: meu tempo é hoje. Preciso continuar acreditando na beleza como força construtora e base para novos mundos. Sou frágil, admito. Tornei-me facilmente diluível, já não sou inflamável. Aprendi a ausentar-me quando, ferida e apequenada, torno-me objeto do meu próprio espanto, muitas vezes indigno da minha admiração.
Sobrevivo às intempéries sem delas conhecer as consequências, mas não sou invencível. Sou como o galho amolecido que, ao sabor dos ventos, permite-se e enverga, enquanto saboreia a vitória sobre o tempo que um dia haverá de consumi-lo, tornando-o inutilizado e morto, quando a sorte, essa palavra preciosa, o abandonar.
Conto sementes com as quais pretendo encantar a terra nem sempre fértil. Já não separo as contas de vidro e as pedras que encontro pelo caminho, mas insisto em reter a areia fina, para tornar críveis as vivências e experiências que um dia, quando tornarmos a dançar ao redor do fogo, compartilharei através do movimento que não cessa.
Sou cavalo alado e fogo-fátuo. Germinar do nada insaciável, rente aos inúmeros precipícios, que consome e transmuta os que dele se aproximam. Sou a pele aquecida sob a doçura dos dias que, apesar de nublados, amanhecem belos e multiplicantes das possibilidades que existem entre as nuvens densas e o chão.
Creio bem pouco no mundo e na humanidade, é verdade. Cerco-me de animais humanos grandiosos e admiráveis. Idealistas, sonhadores e loucos: os que não usam máscaras. Pessoas que, como eu, sorriem e, porque questionam, sofrem. Espelhos e norte. Partes dispersas do que tenho me tornado. Pedras fundamentais de tudo o que quero ser.