12 de abr. de 2012
Amanheceu mais tarde
Amanheceu mais tarde. Não foi pela ausência da sempre magnífica luz solar que pouco depois das seis já atravessa nossas janelas, tampouco em decorrência da perda física que o passar dos segundos transforma em horas intermináveis - como se, condensada, a passagem do tempo pudesse tornar-se um único dia composto por meses e anos que só a controladora maldição humana dos calendários e relógios pôde registrar.
Foi a angústia, manifestada pela ansiedade imobilizadora em confronto com a dança do pensamento, quem me cegou. Ainda tinha os cílios, toda a pele da face e os lábios maquiados no momento em que nos separamos. Usava minha máscara resistente à água quando as pálpebras que cobriam os olhos cansados deixaram de se mover.
Durante a separação, exilamo-nos naquilo que nos unia. Do exterior, apenas a invisível felicidade luminosa dos sons; as nossas músicas, a minha voz que também é sua, a tua voz que descobri ser minha. As similaridades repetidas à exaustão.
Espalhamos papéis, sensações e cores. Tateamos palavras para descobrir novas delícias do inconstante, mas sempre perseguido, estar - que, para nós, sempre pareceu mais divertido que o engessamento do ser. Descobrimos que a frieza congelante que nos envolve seria sempre pouca e pequena para aplacar a calorosa chama que nos une. Convertemos a triste condição de abandono em solidão, musa amada.
Ao fim do menos longo dos dias mais longos, nos reconhecemos ao compartilhar o mesmo espelho. Sob o pôr-do-sol, que torna visível a reciprocidade dos nossos amores, somos eu.