Um erro conduz a outro erro e este, inevitavelmente, conduz a uma infinita cadeia crescente, repleta de erros sem fim.
Trabalho como quem suporta o peso de muitas pedras sobre a fragilidade do dorso; também por isso preciso habituar-me ao erro. Para correr riscos e acumular oportunidades conquistadas preciso estar disposta a assimilar o convívio com os erros que, à maneira de todas as outras sombras e aflições, encontrarei pelo caminho que desejo longo e pedregoso.
Seria fácil conviver com os erros se eles não fossem julgados; se eu não fosse julgada a partir deles. Seria simples se os incapazes de correr os riscos e os infelizes não estivessem à espreita, aguardando o anúncio de mais um erro para descarregar em mim as frustrações que mantêm em suas armas sempre engatilhadas. Sou um alvo dócil, quase receptivo. Talvez errar fosse mais fácil se eu não me soubesse tanto, se não conhecesse cada uma das dores de estar em mim. Sei, por exemplo, que não sou uma ilha. E saber-me percebida de modo equivocado é uma das maneiras mais fáceis de paralisar.
Mesmo que Sartre tenha razão e sejam eles o inferno, não há outra fuga que não a arte. Não há em mim outro caminho possível além das palavras e do movimento. Logo eles, tão singulares, meios em que não existem probabilidades matemáticas que subtraiam os riscos da incompreensão.
Aprendi, durante os últimos trinta anos, alguma coisa sobre [falta de] talento e idiossincrasias. Aprendi também sobre o trabalho e a persistência. Sobre amor e dedicação. Sobre a alegria da dedicação quando há amor ao trabalho.
Talvez consiga dedicar os próximos trinta a correr riscos enquanto, em vão, procuro compreender a multiplicidade dos erros sem explicação, que são todos. Errando mais, talvez aprenda a me divertir com eles, depois que a tristeza – inevitável – passar.