O projeto gráfico do livro, apesar de aparentemente simples, é dos mais bonitos que conheço - faz lembrar dos livros-arte que os aficcionados desejam ter em suas estantes. Some-se à beleza do objeto (o livro) o nome de peso do autor, Samuel Beckett, e o resultado pode parecer grandioso o suficiente para inibir o leitor que ainda não conhece a obra do escritor dublinense que foi um dos fundadores do teatro do absurdo e amigo de James Joyce.
O título, Primeiro Amor, empresta doçura a toda a imponência e convida o leitor a um passeio pelas páginas costuradas em que as palavras, à excessão do início da frase de abertura, posicionam-se sempre à esquerda de quem lê.
Em um texto quase sempre irônico, sarcástico e deliciosamente bem escrito, permeado por sentimentos humanos - legítimos, embora nem sempre socialmente aceitáveis- , Beckett conta uma história de amor que acontece através do silêncio - ou apesar dele.
Primeiro Amor não é um livro de respostas, mas deixa o leitor - que devora suas poucas páginas em minutos - repleto de perguntas sobre as personagens que não são definidas como vítimas ou herois de uma sucessão de encontros marcados pelo incômodo e também pela inevitável dureza da sinceridade. É o retrato da reverberação de um desconforto transformada em beleza literária - aquele tipo de beleza que os grandes autores são capazes de conceber.
Primeiro Amor; Samuel Beckett - 32 páginas - Cosac Naify