9 de jul. de 2012

Suposição

À distância, observo os braços que se agitam em sufocantes acenos desesperados. Olho para a bela figura com respeito e admiração, com carinho afetuoso e ternura, sem condescendência.
Suponho que tenha sido um daqueles a quem o pai presenteou com bolas, soldados, patins, skates, bicicletas e os brinquedos todos. Dono dos jogos de futebol, dos melhores videogames e também da fragilidade dos colegas do bairro. Líder de muitas outras vidas, o dono da rua.
Suponho que tenha sido o neto mais bonito da vovó e o mais inteligente para o avô, velho poeta a quem os mais próximos chamavam mestre. Que tenha sido o que ostentava as melhores notas da classe, o melhor da escola e dos esportes nos quais se aventurou, também é uma suposição.
Suponho que sorri exibindo a perfeição das arcadas dentárias e que, quando as muitas saudades transbordam, lacrimeja. Que transpira, saliva, e que, eventualmente, espirra e tosse, como todos nós. Suponho que seja um príncipe estranho a todas as nobrezas, membro isolado de uma numerosa e pulverizada casta ainda desconhecida.
Abraçado pelo pequeno mundo de pernas, braços, mãos e palavras várias, um menino. Um menino, só.