Hoje li muitas páginas de um romance da Virginia W., no qual a leitura parecia ter empacado, e terminei de ler um livro de poemas da Marina Colasanti, que escreve lindamente e eu só conhecia de um texto na oficina do Becê. Li muitas páginas de palavras bonitas muito bem postas em histórias bem escritas. Ainda assim, confesso que foram os textos que li no fundo do poço de lama que são as redes sociais que me fizeram sentir vontade chorar. De desgosto.
Não consigo acreditar que o dia do homem seja levado a sério por eles!
Li textos ridiculamente pobres, escritos por homens que têm entre vinte e trinta e poucos anos, repetindo o discurso do patriarcado, sobre os homens serem os protetores, os provedores, os guardiões... e serem, segundo as palavras deles, tudo que uma mulher quer. Sim, eles parecem acreditar que um homem é tudo que uma mulher quer. É desnecessário mencionar que há mulheres que, mais que a um homem, desejam outras mulheres. Não é o meu caso, mas, por acaso, tudo o que eu queria hoje, especialmente hoje, era um par de botas azuis com fivelas e spikes dourados. Não são botas para uma heroína e nem foram trazidas por um herói salvador de mocinhas frágeis e incapazes - eu, como muitas outras mulheres, não espero que meus desejos de consumo sejam atendidos por alguém do sexo oposto. São botas azuis nas quais eu investi o dinheiro que é fruto do meu trabalho. São botas azuis que eu desejei e que foram compradas por mim.
Botas à parte, li também que alguns rapazes se sentiram ofendidos com a pouca sensibilidade das mulheres a um dia tão importante. Alguns deles, dois ou três, mencionaram que a data deveria ser tão comemorada quanto o dia da mulher. O que eles esperavam? Uma cerveja? Uma mesa com bolo e outros doces? Uma medalha ou um certificado de melhor macho do mundo? Se queriam o apoio das mulheres machistas - para vergonha de muitas de nós -, eles conseguiram. Muitas gostaram das declarações feitas pelos candidatos a príncipe encantado. Pelo alto nível de desinformação, todos os envolvidos estão de parabéns.
Eu não celebro o dia da mulher e não espero receber, nesta ou em outra data, um prêmio de consolação por sobreviver calada sob o manto do machismo, porque não me calo e não me submeto a ele. Mas espero, sinceramente, que aqueles que se sentem ofendidos com a irrelevância do dia do homem saibam fazer bom uso das ferramentas de pesquisa para descobrir quais foram os acontecimentos que, em 1917, registraram a importância histórica do dia 8 de abril. Sugiro que procurem informações sobre o dia 25 de março de 1911 ou sobre a história das mulheres que tiveram suas vidas ceifadas por uma sociedade dominada por pessoas tão pouco esclarecidas quanto vocês.
Posto isto, conversaremos no ano que vem.
Não sei se minhas botas azuis resistirão até 2014, mas estou certa de que continuarei dispensando as rosas e os chocolates no oitavo dia de abril.
Prefiro lírios brancos sem data marcada, todos os dias e sempre.