3 de jul. de 2013

Inúteis

A Metamorfose

Sim, Gregor Samsa, somos nada. Depois de nos julgarmos o ponto central, o eixo sobre o qual circunda o universo infinito e o além, somos nada. Somos menos que o pó. Para os desesperados, preguiçosos, vagabundos e parasitas, somos nada. E só nos percebemos desnecessários quando, tarde demais, vimos suas costas. Já longe. A uma distância inalcançável. Tarde demais.
No princípio da transformação, o assombro, o asco, o desamor e a ignorância. O medo da diferença. O pavor e a discriminação. Nojo daquilo que é familiar. Nojo do que, por semelhança e identificação interna, torna repugnante o que foi belo. Desamor, Gregor Samsa. Indiferença.
Descobrimo-nos não o centro, a base ou o botão de liga-e-desliga. Não somos o suporte ou sequer a consciência. Somos nada. Terminamos sozinhos, Gregor.
Juntaram nossos restos mortais e deles se livraram. As peças restantes se sobrepõem. Sem nós, a engrenagem continua a funcionar.


Escrito por mim e originalmente publicado no falecido blogue Rango na Madrugada, no dia 03 de outubro de 2007.