Chegou apressado à rodoviária. Perdeu a passagem. Perdeu o primeiro dos dois ônibus daquele dia. Perdeu o ônibus das dez. Dia quente. Uma cerveja e um pão de queijo. Uma água de coco. Cinco horas de espera. A garota de vestido azul sentada à sua frente. O vestido azul e os olhos verdes. Os olhos verdes e cabelos negros encaracolados. Palavras tatuadas no tornozelo direito. Os sorrisos. A troca de olhares. Não queria ser devorado, por isso procurou o celular. Dez segundos. Um minuto, talvez. A garota já não estava.
Faltavam quinze minutos para a saída do segundo ônibus quando os televisores do saguão de espera mostraram o acidente. O ferro retorcido da cabine do ônibus daquela manhã. Pedras, um caminhão e um barranco. Vidros quebrados. Motorista morto. Silêncio. Nenhum passageiro havia sobrevivido. Close na sapatilha brilhante. "Carpe Diem". A barra do vestido azul.